Biossegurança em Biotérios de Experimentação (Parte II)

Articulos Cientificos

Biossegurança em Biotérios de Experimentação 
Risco Biológico e níveis de proteção Parte II
Equipamentos de Segurança, Edificação e sistemas Prediais (instalações)

Autor: Joel Majerowicz MV MSc

Dando continuidade a parte I deste artigo, relembramos que os biotérios de experimentação devem ser projetados e construídos de acordo com o grupo de risco dos agentes que serão utilizados nos experimentos “in vivo” e devem atender as recomendações de biossegurança emanadas pelas autoridades competentes no país.

Os equipamentos, a edificação e as instalações prediais são integrantes do sistema de biossegurança e devem ser consideradas no desenvolvimento dos projetos construtivos e nos procedimentos operacionais, considerando o nível de biossegurança de cada instalação.

Descrevemos a seguir as recomendações em função do grau de risco.

Equipamentos de segurança

Nível 1
Nesse nível não há exigência de equipamentos de segurança, uma vez que os agentes classificados nessa categoria não são patógenos.

Nível 2
O uso de Cabine de Segurança Biológica (CSB), contensões física do animal e equipamentos de proteção individual (EPI) são recomendados sempre que atividades com grande potencial de formação de aerossóis ou risco de traumatismo por agressão animal são realizadas. Como exemplo a necropsia de animais infectados, coleta de tecidos ou sangue e outros fluidos de animais ou ovos infectados, instilação intranasal em animais e manipulações com alta concentração ou grande volume de material patogênico.

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Fig 1. Contenção para camundongos

Roupas de proteção e EPIs devem ser usados nas instalações e removidos na saída.

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Fig 2 – Equipe com paramentação descartável (sapatilha, calça, avental, luva, máscara e touca)

O uso de luvas é obrigatório no manejo animal, e devem ser retiradas assepticamente e encaminhadas à esterilização como todos os outros materiais das salas de animais.

A contaminação da pele com material patogênico deve ser evitada, então é extremamente recomendada a proteção dos antebraços no manejo de animais infectados ou quando há o risco de contaminá-la em atividade com microrganismo.

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Fig 3 – Proteção para o antebraço.

Uso obrigatório de calçados, sapatilhas ou outra proteção dos calçados. Após o uso devem ser acondicionados em recipiente resistente antes de descontaminados ou esterilizados.

Autoclave deve estar disponível nas instalações ou em local próximo, nesse último caso o material com risco biológico deve ser transportado de forma segura e em “container” fechado.

Nível 3
Além das recomendações do nível 2, mais:

Equipamentos de proteção individual sempre são utilizados para as atividades com material patogênico ou animais infectados;

Uniforme completo e de frente sem aberturas e que não contenha botões, zíper ou outros detalhes que possam acumular sujidades devem ser usados por todos que se destinam à sala de animais. Após o uso esse uniforme deve ser desprezado em recipientes específicos e que sejam de parede sólida e revestidos em sacos plásticos impermeáveis e autoclaváveis, e assim possam ser encaminhados à esterilização.

Contensão física dos animais e equipamentos de segurança apropriados para cada espécie animal é usado para todos os procedimentos e atividades com animais infectados.

O risco de contaminação por aerossóis pode ser reduzido quando se faz uso de microisoladores ou outro sistema de contenção para o microambiente da gaiola. O manejo zootécnico, como a troca de gaiola, bem como os procedimentos experimentais com os animais é realizado em Cabine de Segurança Biológica classe II ou superior.

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Fig 4 – Microisolador estático


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Fig 5 – Microisolador ventilado

O uso de isoladores para alojamento dos animais é recomendado para patógenos de alto risco de transmissão por aerossóis.

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Fig 6 – Dr. Sebastião Enes Reis Couto operando um isolador de pressão positiva.

Autoclave para descontaminação deve estar disponível em localização conveniente no biotério, onde o risco biológico é segregado. Materiais ou resíduos com risco biológico devem ser autoclavado antes de ser transferido para outras áreas ou serem disponibilizados como lixo.

Nível 4
Além das recomendações dos níveis 1 e 2, mais:

Todos devem trocar as roupas de uso pessoal e utilizar uniforme especial e EPIs. Após o trabalho devem retirar a roupa de proteção e fazer higienização corporal antes de sair da área de risco. A roupa de proteção deve ser encaminhada para descontaminação.

As pessoas não podem trabalhar sozinhas. Regras claras devem ser estabelecidas para o trabalho em dupla.

As pessoas devem ter o melhor nível de formação possível e estar familiarizado com os riscos envolvidos e as precauções necessárias na rotina de trabalho.

Caixa de Passagem (pass-through) com portas Inter travadas deve estar disponível para a introdução de materiais no biotério.

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Fig 7 - Caixa de Passagem (pass-through)

Toda manipulação com animais infectados deve ser conduzida condições de máxima contenção

Animais contaminados com microrganismos de nível 4 são mantidos em sistema de contenção máxima ou isoladores.

Animais infectados com microrganismos de nível 4, em que exista vacina de conhecida eficiência, podem ser utilizados em sistemas de contenção parcial se:

  • O biotério é desinfetado regularmente;

  • Não esteja em andamento outro trabalho de nível 4 de risco;

  • Todos os procedimentos e práticas específicas são realizados.

Edificação e sistemas prediais

Nível 1

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Fig 8 – Esquema de laboratório NB1

No projeto do biotério e em sua construção devem ser considerados aspectos que facilitem a limpeza, desinfecção e a manutenção.

As superfícies das paredes, dos pisos e dos tetos devem resistir à lavagem e
desinfecção.

Na existência de janelas para o exterior do prédio essas devem possuir proteção contra insetos.

Recomenda-se que a exaustão de ar seja feita diretamente para o exterior do prédio e sem recirculação de ar.

Nível 2

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Fig 9 – Esquema de laboratório NB2 

Todas as recomendações do nível 1, mais:

Recomenda-se que nas salas de animais a pressão do ar seja negativa, no entanto não é obrigatória.

A exaustão de ar deve ser descarregada para fora do prédio e não deve recircular por nenhuma parte do biotério.

As portas das salas de animais devem abrir para seu interior e serem de fechamento automático.

Janelas, se presentes, devem ser seguras, resistentes a impactos e se for possíveis de abrir devem possuir proteção contra insetos.

Na existência de ralos, esses devem ter tampas e serem sifonados para que haja sempre água ou preferencialmente solução desinfetante em seu interior.

Nível 3

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Fig 10 – Esquema de laboratório NB3

Todas as recomendações dos níveis 1 e 2, mais:

O biotério deve ser construído separado de outras instalações.

A entrada de pessoal à área de animais deve ser feito por ambiente de dupla-porta e com área para retirada de roupas, boxe para banho e paramentação.

Roupas de proteção laboratorial devem ser utilizadas nesse nível de risco e descontaminadas antes de serem levadas para a lavanderia.

As tubulações das instalações prediais são vedadas ou passíveis de serem vedadas, visando a descontaminação por agentes gasosos.

As torneiras das pias são de abertura automática, através de pedal ou tipo cirúrgica. Uma pia deve ser instalada na saída da área de experimentação.

Líquidos de pias, ralos e autoclave são descontaminados por processo a quente (calor úmido) antes de eliminados no sistema sanitário.

Ao utilizar equipamento de vácuo este deve possuir desinfecção química e filtração HEPA do ar que saí do equipamento.

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Fig 11 – Esquema de desinfecção química e filtração para sistema de vácuo

As janelas devem ser fechadas, seladas e resistentes a impactos.

As portas das salas de animais devem possuir molas ou outro sistema que não
possibilitem que fiquem abertas.

A pressão das salas de animais é negativa em relação às áreas próximas. A exaustão do ar das salas é eliminada através de filtros HEPA. A validação das pressões do ar deve ser realizada periodicamente. O sistema de condicionamento de ar e ventilação mecânica deve prevenir acidentes de inversão da pressão em todo o biotério.

A filtração dos gabinetes de fluxo laminar ou outros sistemas de contenção são
eliminados para fora do prédio ou pelo sistema de ar condicionado da edificação.

Autoclave deve estar disponível e ser instalada no biotério em local apropriado e perto da área de armazenamento do material de risco antes da descontaminação. Resíduos infectantes devem ser descontaminados antes de serem levados para outras áreas.

Animais infectados com agentes de risco do grupo 3 deve ser alojado em isoladores ou em sistema de racks ventilados.

Nível 4

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Fig 12 – Esquema de laboratório NB4

Todas as recomendações dos níveis 1, 2 e 3, mais:

O biotério é localizado em um prédio próprio ou em área sinalizada e isolada. O acesso de pessoal é feito por área de troca de roupas e separado por box de banho.

Autoclaves de dupla-porta ou equipamentos de desinfecção com pressão positiva em relação a área de animais, são utilizados para a introdução de materiais, insumos e outros suprimentos que não são levados para o interior através de outras áreas.

Autoclave de dupla-porta para descontaminação de todos os materiais retirados do biotério e de uso exclusivo dessa instalação. Esse equipamento deve possuir sistema que impeça a abertura da porta externa sem que um ciclo de esterilização seja realizado.

Materiais que não possam ser descontaminados pela autoclave devem ser processados em equipamentos ou sistemas que garantam a retirada desses materiais sem risco biológico.

As paredes, piso e teto são de acabamento que possibilitem a descontaminação por agentes químicos. As instalações e tubulações prediais, nesse prédio, e suas superfícies são vedadas.

Todos os animais são alojados em sistema de máxima proteção ou em isoladores

Se um sistema de vácuo é utilizado, esse não pode atender a outras áreas. Esse sistema deve ter filtros HEPA localizados em cada local de uso.

As utilidades para líquidos e gases devem possuir sistema contra refluxo.

Todas as janelas são resistentes a choque mecânico e vedadas.

O processo usado para descontaminação de líquidos devem ser certificado por processos físico e biológico, através de controle de temperatura e um indicador biológico com susceptibilidade ao calor;

O sistema de ar condicionado deve ser específico, sem recirculação de ar. A ventilação e a exaustão são equilibradas, visando garantir as pressões diferenciais dos ambientes.

Esse diferencial de pressão é monitorado e deve contar com sistema de sinalização para o caso de mau funcionamento. Em caso de mau funcionamento, o próprio sistema deve garantir, pelo menos, um diferencial de pressão igual a zero.

A exaustão do ar de ambientes com gabinete de contenção classe III são processados por filtro HEPA antes de eliminado para fora do prédio. Os filtros são localizados o mais próximo do ambiente, visando diminuir a contaminação do duto de exaustão. O local do filtro deve permitir sua retirada com prévia descontaminação, ou ser de retirada em invólucro impermeável e lacrado para posterior descontaminação.

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Fig 13 – Esquema de troca de filtros (bag in bag out)

Bibliografia

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  • Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, Instrução Normativa n0 2, Dispõe sobre a classificação de riscos de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) e os níveis de biossegurança a serem aplicados nas atividades e projetos com OGM e seus derivados em contenção

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  • National Research Council. 1999. Guia para el Cuidado y Uso de los Animales de Laboratório. NW, Washington, 146 p.

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  • Seamer, J.H. and Wood, M. – Safety in the Animal House, 1981.

  • World Health Organization, Laboratory Biosafety Manual – Second Edition. U.S. Department of Health, Education and Welfare (1997) – Guide for the care and Use of laboratory Animal.

 

Joel MajerowiczJoel Majerowicz MV MSc. Médico Veterinário, graduado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1981). Especialização em criação de animais livres de microrganismos patogênicos específicos no Institute of Veterinary Medicine, Alemanha (1988). Mestre em Tecnologia em Imunobiológicos pela Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz (2005). Chefe do Serviço de Criação de Roedores, Lagomorfos, Ovinos e Equinos do Departamento de Biotérios do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos / Fiocruz: 1988 a 1995. Chefe do Laboratório de Experimentação Animal (LAEAN) de Bio-Manguinhos / Fiocruz: 1996 a 2007. Gerente do projeto do Centro Integrado de Protótipos, Biofármacos e Reativos para Diagnóstico (CIPBR) / Bio-Manguinhos / Fiocruz: 2007 a 2009. Diretor do Centro de Criação de Animais de Laboratório (Cecal) / Fiocruz: 2009 a 2013. Assessor para biotérios e biossegurança no Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) / Fiocruz (2013). Coordenador do Curso de Atualização Profissional em Biossegurança em Biotérios da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio / Fiocruz. Organizador do livro Biossegurança em Biotérios (Molinaro, Majerowicz & Valle, 2008). Autor do livro Boas Práticas em Biotérios e Biossegurança (Majerowicz, 2008).

 

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